Para contar mais sobre como funciona o contexto de educação dentro das instituições especializadas, a ASID realizou uma entrevista.
A entrevistada foi a psicóloga Clarissa Henriete Ogliari Bilek, de 31 anos. Ela atua na Escola Nilza Tartuce – Modalidade Educação Especial.
Clarissa nos contou um pouco mais sobre como acontece a educação dentro das instituições especializadas e qual a sua importância hoje. Visto que essas instituições atendem os alunos que não tem a possibilidade de acompanhar o ensino regular.
1. Como acontece o processo de aprendizado dentro da escola especial?
“O processo de aprendizagem dos nossos alunos ocorre como o resultado da mediação entre o objeto de conhecimento e o sujeito. Ou seja, da mesma forma que ocorre com alunos com o desenvolvimento normal. Assim o professor então necessita trabalhar o conteúdo a ser ofertado de várias maneiras. Assim promovendo principalmente experiências significativas para os alunos. Desta maneira a temporalidade se diferencia pois a criança necessita de muito mais tempo e trabalho para aprender. Assim muitas crianças com deficiência intelectual, independente do diagnóstico, possuem muita dificuldade na memória de curto prazo. Isto afeta diretamente sua atuação em sala de aula e sua aprendizagem. Por exemplo, no caso de um aluno com deficiência intelectual com um grau de comprometimento maior o professor necessita então trabalhar de forma mais gradativa e lenta. O fato é que o professor da escola especial necessita de muito suporte para entender o seu aluno. Em síntese, o professor tenta ensinar um conteúdo e não percebe que aquela aprendizagem não está sendo significativa e importante para seu aluno simplesmente porque a criança não está compreendendo. Embora tenha idade cronológica para determinada aprendizagem seu desenvolvimento cognitivo não corresponde e por isso ele ainda não aprendeu o que lhe foi ofertado. Desse modo constatado este fato o professor então irá organizar atividades que promovam o desenvolvimento cognitivo do seu aluno. Em relação ao ingresso no ensino regular, toda criança tem direito e condições de participar do processo de inclusão, independente da gravidade do seu diagnóstico, o problema é que muitas escolas e profissionais não estão aptos para lidar com a inclusão.”
2. Quais trabalhos e atividades diferenciadas são realizados dentro da das instituições especializadas?
“A escola da modalidade de educação especial oferta aulas assim como no ensino comum, entre elas educação física, arte e informática. Também proporciona atendimentos na área de fisioterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional e psicologia. Também temos grupos de mães e constantemente chamamos as famílias para virem até a escola para receberem orientações sobre seu filho. Para que dessa forma possam realizar intervenções em casa também a fim de adequar algum comportamento ou otimizar sua aprendizagem. Os alunos são trabalhados de forma individual sendo que há objetivos específicos a ser trabalhado com cada um. Por isso cabe ao professor conhecer o desenvolvimento cognitivo de seus alunos para então traçar estratégias de intervenção. Assim existe a necessidade de um número reduzido de alunos em cada sala. No máximo de dez.”
3. Na sua percepção, como os alunos se desenvolvem dentro das instituições especializadas?
“Geralmente os alunos chegam em nossa escola com uma experiência bastante negativa do ensino comum. Pois o que percebemos é que são crianças que perderam toda motivação para a aprendizagem e denotam baixa autoestima. Eles não sentem que são capazes de fazer nada certo ou que vão conseguir aprender. Não é incomum perceber que estas crianças apresentam comportamentos inadequados com condutas desafiadoras e opositoras. Muitas vezes com o decorrer das semanas e a adaptação do aluno, estes comportamentos vão melhorando. Isso sinaliza para a equipe que atende esse aluno que aquele comportamento observado era na verdade um pedido de ajuda da criança. Ou seja, que se encontrava num ambiente impróprio para seu desenvolvimento, desajustado. A criança não é capaz de falar que algo não está bom ou esta deixando-a infeliz. Ela externaliza esses sentimentos através do comportamento. Quando a criança percebe que é aceita da forma que é, com suas dificuldades e limitações. Ela começa a agir de uma maneira completamente diferente e sua relação com a aprendizagem é ressignificada. Mas não recebemos só alunos do ensino comum. Há também aquelas crianças que estão na escola desde os primeiros meses de vida e que permanecem na escola de modalidade de educação especial e as famílias não optam por mandar para o ensino comum. Há também aqueles que vem de outras escolas especiais.”
4. Como funciona o ambiente de educação especial?
“O ambiente da escola da modalidade de educação especial ocorre da mesma maneira que outras escolas. Ou seja, os alunos tem hora para entrar e sair, lancham e fazem atividades recreativas na hora do recreio como em qualquer outra escola. Em nossa escola a deficiência do aluno não é o foco principal. Afinal temos que sempre lembrar que não trabalhamos com diagnósticos, trabalhamos com crianças, que tem seus sonhos, medos e angústias como qualquer outra. Crianças que precisam ser amadas e aceitas como são e acho que esse é o principal ganho da criança que está na educação especial. Ser reflexo de um olhar de profissionais que acreditam no seu potencial e apostam em suas habilidades. A partir disso, trabalhamos não para que saiam da nossa escola sabendo tudo que uma criança necessita aprender. Trabalhamos para que se tornem jovens confiantes e atuantes na sociedade, que desenvolvam o mínimo de criticidade e que possam conquistar seus sonhos.”
5. Quais são as maiores dificuldades enfrentadas e os cuidados que os profissionais precisam ter dentro do ensino para a criança especial.
“Acho que nossa maior dificuldade é lidar com a injustiça social, falta de oportunidades para nossos alunos. Os profissionais desta área lidam diariamente com histórias de abusos, tanto emocionais como sexuais. Com histórias de negligência e de abandono. Como orientados, acionamos órgãos competentes mas que muitas vezes não nos trazem resultados imediatos. Tudo é muito lento e temos que lidar e conviver com o sentimento de impotência diante de coisas que acontecem diariamente. O que fazemos é trabalhar com a conscientização familiar. Oferecemos suporte para que o nosso aluno tenha a melhor qualidade de vida possível a partir daquilo que lhe é real.”
6. Na sua percepção, qual a importância da escola especial para os alunos que não tem a possibilidade de frequentar o ensino regular?
“Como qualquer outra escola, a nossa também é primordial e essencial para nossos alunos. Desta forma é na escola que o sujeito aprende a se socializar, a ser um cidadão e a atuar democraticamente. Então acredito que nossa escola é de fundamental importância para nossos alunos. Pois muitas vezes é o único lugar que a criança frequenta. Toda criança independente de sua condição tem direito ao conhecimento. A nossa escola é uma ponte para nossas crianças acessarem este conhecimento.”
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